“A educação é um ato de amor e, por isso, um ato de coragem”. Esta frase faz parte do livro "Educação como Prática da Liberdade", escrito por Paulo Freire em 1983. E, apesar de ter sido publicado há quase 40 anos, não só a frase, como toda a obra seguem completamente atuais, sobretudo, neste 28 de abril, data na qual exaltamos a importância da educação em nosso país.

Afinal de contas, não é segredo para ninguém o fato de que vivemos tempos obscuros em nossa educação, com escândalos envolvendo desde o ministério responsável por esta pasta, até a deslegitimação de professores e pesquisadores por entidades oficiais da máquina pública. Tudo isso sem contar com o sucateamento do ensino, por parte de alguns grupos que fazem da educação uma mercadoria, mobilizando estudantes e docentes rumo à precarização da vida e do trabalho.

Paradoxalmente, até pouco tempo atrás, grande parte da população afirmava que os problemas sociais do Brasil poderiam ser resolvidos com uma educação de qualidade de modo a garantir melhores oportunidades aos cidadãos e cidadãs. Hoje, corremos o risco iminente da perda da democracia, mobilizada por discursos de ódio que se vestem de pautas morais com o compromisso de perpetuar a desinformação.

Contudo, para além desta perspectiva, precisamos sempre voltar a pensar sobre o papel basilar da educação, que é o de promover uma real transformação na vida das pessoas e, por consequência, na vida de uma nação. E é aqui que o nosso padroeiro da educação, Paulo Freire, mostra-se mais contemporâneo do que nunca.

No lugar do ódio, a pedagogia freireana privilegia o amor. Paulo Freire nos convida a adotar uma postura amorosa, que contemple a diversidade como premissa básica, garantindo o o à educação pelos marginalizados, oprimidos e invisibilizados. Amar é oferecer uma postura crítica sobre um mundo que opera por exclusão. É garantir que o universo de referência dos estudantes possa ser tão particularmente especial, quanto amplamente necessário de ser levado em consideração.

O amor, na obra freiriana vem junto do diálogo que, por sua vez, constrói pontes, altera percursos, produz novos caminhos. Ao mesmo tempo, o amor é resistência e demarca a coragem como seu combustível. Na sala de aula, amar é ter empatia e, como diz um colega professor, ter empatia "não é só sobre se colocar no lugar do outro, mas sobretudo se colocar ao lado do outro, próximo, encurtando distâncias, produzindo proximidades", como fonte de referência, troca e acolhimento.

Que esta fase de transição e logo e nos lembre de um dos mais belos papéis da educação, que é o de colocar à disposição dos sujeitos uma série de meios para uma abordagem mais reflexiva da sociedade, sobretudo, em tempos nos quais a democracia parece tão fragilizada e exige de nós uma postura de luta, para que não entremos em luto.