Atendendo as expectativas, Andor retornou para sua segunda (e última) temporada mantendo o altíssimo nível que a fez ser considerada por muitos como o conteúdo mais bem escrito de Star Wars até hoje.
Desta vez, a produção aprofunda ainda mais a trajetória de Cassian Andor (Diego Luna), mostrando pontos-chave da sua trajetória como agente da rebelião, o encaminhando até sua missão final em Rogue One.
Depois dos eventos marcantes da primeira temporada — como o golpe em Aldhani, a rebelião em Ferrix e o espetacular arco da prisão de Narkina 5 —, a nova leva de episódios segue com arcos estruturados em trios. A diferença agora é o uso do avanço temporal ano a ano, acelerando a narrativa rumo ao ponto de conexão com o filme de 2016.
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Um Star Wars sem a Força — e com muita força
Diferente da maioria das produções do universo Star Wars, Andor abre mão de sabres de luz, Jedi, Sith e da clássica batalha maniqueísta entre bem e mal. Aqui, o foco está em espionagem política, personagens ambíguos e diálogos intensos que substituem batalhas épicas por tensão silenciosa.
Tony Gilroy, que já havia se destacado na primeira temporada, aprofunda o drama com uma escrita afiada e temas maduros, como:
- Autoritarismo e abuso de poder;
- Controle da mídia e propaganda estatal;
- Sacrifícios morais pela sobrevivência de uma ideia;
- A necessidade de uma liderança firme e organizada, e de liderados que saibam seguir as ordens, e;
- A fundação da rebelião por trabalhadores, burocratas, exilados, senadores e agentes infiltrados.
A abordagem torna Andor muito mais próximo de Slow Horses ou das primeiras temporadas de Game of Thrones do que de The Mandalorian ou Obi-Wan Kenobi.
Outro trunfo está na liberdade criativa: salvo por Cassian (de quem já conhecemos o desfecho em Rogue One), Mon Mothma e poucos coadjuvantes conhecidos, a maioria dos personagens pode morrer, falhar ou trair — o que aumenta o senso de risco e urgência em cada episódio.
Tramas que chocam e emocionam
A série impressiona não apenas pelo texto, mas também por sua produção impecável. Gravada em locações reais, a série se apoia em cenários ricos, direção precisa e atuações sólidas para sustentar o tom mais sóbrio e maduro da narrativa.
O ritmo é intencionalmente mais lento (normalmente dois episódios de preparação para um terceiro de grande impacto), mas isso recompensa o espectador com momentos de tirar o fôlego.
Na nova temporada, por exemplo, o massacre de Ghorman é construído ao longo de oito episódios, revelando aos poucos a brutalidade do Império e os dilemas morais de quem tenta resistir. Não há pressa, apenas uma escalada inevitável rumo ao horror.
Outro arco memorável é o de Mon Mothma (Genevieve O’Reilly), cuja trajetória de renúncia à vida pública e entrega definitiva à rebelião culmina em um episódio eletrizante. Em meio à sua fuga, a personagem protagoniza um discurso marcante sobre a perda da verdade — um momento em que o texto brilha e expõe, com força, como o autoritarismo se instala quando a mentira se normaliza.
Encerramentos de arcos
Andor não se sustenta apenas sobre os ombros de Cassian e Mon. Ao longo da temporada, acompanhamos a evolução de diversos personagens, seja por meio de traumas, conquistas ou reviravoltas morais.
De um lado, há a trama focada na ISB, o serviço de inteligência do Império — um ambiente movido por manipulações e jogos de poder. No centro disso estão Dedra Meero (Denise Gough) e Syril Karn (Kyle Soller), que agora compartilham uma dinâmica tensa e inesperada, revelando ainda mais camadas de suas personalidades.
E, para reforçar a sensação de ameaça iminente, há o retorno de Orson Krennic (Ben Mendelsohn), diretamente de Rogue One, trazendo de volta seu ar gelado e calculista de vilão.
Do outro lado, os rebeldes seguem se articulando. Acompanhamos a criação da base em Yavin, o avanço da célula rebelde e os impactos das ações da primeira temporada. Bix (Adria Arjona) ganha mais profundidade ao lidar com os efeitos psicológicos da tortura que sofreu. Já o carismático K-2SO (Alan Tudyk) finalmente é introduzido à narrativa, trazendo consigo mais da dinâmica do droid com o próprio Andor.
Mas o maior destaque está na relação entre Luthen (Stellan Skarsgård) e Kleya (Elizabeth Dulau). Ele, como sempre, domina todas as cenas com intensidade e presença. Mas é Kleya quem brilha em um dos episódios finais, entregando uma performance marcante, que revela sua importância na rebelião e a posiciona como um dos nomes mais interessantes dessa nova temporada.
Silêncios que dizem tudo
A força de Andor está tanto no que é dito quanto no que fica nas entrelinhas. Em vez de recorrer a longas exposições ou diálogos explicativos, a série aposta na inteligência do público. Os personagens vivem sob constante vigilância, o que torna impossível que revelem suas verdadeiras intenções, e isso é incorporado de forma brilhante à narrativa.
Com isso, o espectador precisa ler gestos, silêncios, hesitações. Cada olhar ou pausa carrega o peso da repressão e da resistência. Não há atalhos, e o envolvimento exige atenção. Mas a recompensa é clara: momentos de alta tensão, reviravoltas discretas e emoções genuínas, que surgem quando tudo finalmente se revela.
Mesmo com ritmo mais contido, a construção meticulosa faz com que cada explosão (literal ou emocional) seja sentida em cheio. É uma série que respeita a paciência do público — e a recompensa é proporcional.
Vale a pena assistir?
Se você busca uma abordagem mais adulta, densa e realista dentro do universo de Star Wars, Andor é imperdível. A série aprofunda a rebelião e as pessoas que a construíram com sangue, dúvida e coragem — e melhora retroativamente tanto Rogue One quanto a trilogia original.
Disponível na Disney+, com duas temporadas de 12 episódios cada, Andor é mais do que uma série para fãs: é uma história que se sustenta por conta própria, mesmo para quem nunca ligou muito para a franquia. O tipo de narrativa que prova como ainda é possível inovar em um universo tão explorado.
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